sexta-feira, julho 08, 2005

José Pastor

A PESSOA DE JOSEFANE FICOU NO MASSACRE DE MALUANE, MAS SEU CORPO VEIO A MAPUTO PARA PÔR VELAS

Uma rajada de metralhadora
e ele caiu do camião.
Rachou-se o cóccix.
Coaxaram as rãs do rio vizinho.
Cócegas no sangue dele.
O primeiro grito foi
o canto plangente do cisne.

As árvores deliravam
ruídos de harpa. A morte,
com a sua foice aguerrida,
saqueou-lhe todo o sangue baboso
e levou-lhe a cruz ao calvário
doloroso da fossa comum.

O rio de lágrimas secou
na roda dentada da vida.
A moagem do coração parou.
Os açudes que represam o sangue
das veias desmoronaram-se.

No seu organismo
só ficaram gemidos de grilo,
primeiro;
piares de coruja,
depois;
e o silêncio sepulcral dos vermes,
por último.

A morte encafuou-se no seu ninho.
E lá, dentro de Josefane madrugador,
ficou quietinha e satisfeita
a pôr seus ovos de cotovia.

E um louva-a-deus
foi o primeiro ser vivo
a pousar no seu corpo morto.

Eu vi!, com o coração aos pirilampos…


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1 comentário:

  1. mto legal
    e putz.. acredita q eu fraturei meu cóccix ontem?!!!
    bjo, fernanda.

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