segunda-feira, julho 04, 2005

João Paulo Borges Coelho

SETENTRIÃO / O PANO ENCARNADO (excerto/3)

(…) e viramos o olhar para fora, para ver quem passa.
Serão crianças aos pares a caminho da madrassa, rapazes com rapazes, barulhentos; raparigas com raparigas, em silêncio e de olhos postos no chão, tirados de lá apenas para varrer em volta e queimar como fogo num curto instante; velhos sem idade, a cabeça os cofiós, montados em também velhas bicicletas, que chiam e tremem mas avançam sempre; belas mulheres transportando coisas à anca ou à cabeça; e turistas, quase sempre italianos.
Guarda che bello!
Entram por uma margem e saem pela outra do estreito campo de visão que a porta nos permite, não dando sequer tampo de reter feições, que por isso nos parecem tão iguais. Como se fosse apenas um par de crianças, um velho, uma bonita rapariga, dois ou três turistas passando e tornando a passar, sempre os mesmos, mudando apenas o que trazem vestido para nos confundir. Como se fossem modelos do senhor Rashid desfilando naquela curta passarelle para nos dar ideia das potencialidades da Alfaiataria 2000.


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