quinta-feira, agosto 30, 2007

Alberto de Lacerda

ARDESTE

Ardeste
Incólume

Promontório após
Promontório

O teu ser foi absorvendo
Inteiro
O horizonte laminado
Circular


[278]

terça-feira, agosto 21, 2007

José Eduardo Agualusa

AS MULHERES DO MEU PAI (excerto/5)

O colo da minha mãe cheirava a incenso e a maresia.


[277]

segunda-feira, agosto 13, 2007

José Eduardo Agualusa

AS MULHERES DO MEU PAI (excerto/4)

«[…] Uma ocasião, já tu tinhas partido há muito, fui a Lourenço Marques, e levaram-me a jantar ao Hotel Polana. Quando entrei no salão o pianista começou a tocar o Muxima. Eras tu, com alguns cabelos brancos, mas sempre jovem e elegante. Disseste-me: “Aqui não entram pretos”, e de facto éramos os dois únicos homens de cor ali dentro. Soltaste uma daquelas tuas gargalhadas cheias de vida, cheias de som e de fúria, e acrescentaste: “Sinto-me como uma gazela a pastar entre leões. O truque é agitar a juba e rugir.” A verdade é que Faustino Manso sempre entrou onde bem quis. Nunca aceitou ficar à porta e nunca ninguém se atreveu a deixá-lo à porta […]»


[276]

sábado, agosto 04, 2007

José Eduardo Agualusa

AS MULHERES DO MEU PAI (excerto/3)

A Ilha de Moçambique está ligada ao continente por uma longuíssima ponte, tão estreita que dois carros não conseguem cruzar-se sobre ela. Torna-se necessário aguardar por um sinal para aceder ao tabuleiro. Ao longe dir-se-ia uma amarra. Caso se rompa, o que, receio, possa acontecer a qualquer instante, há-de afastar-se da costa, à deriva, em direcção a um tempo morto. O casario degradado, as árvores, a estátua de Vasco da Gama, diante do antigo Palácio dos Governadores – tudo isto encontra-se coberto, democraticamente, por um véu de poeira e de esquecimento.


[275]