quinta-feira, março 20, 2008

Rui Nogar

NOVA DIMENSÃO

Esta borboleta
Que volitando vai
De cama em cama grade a grade
De não-penses-mais
A um-dia-hás-de-sair
Não é uma borboleta vulgar

É sim uma borboleta
Borboleta ainda
Que um homem nesta prisão
Jurou libertar um dia
Para um voo universal
Do ciclo deste poema
Nas praças desta nação

É uma borboleta sim
Que ela aprendeu a amar
Em cada nova tentativa
De profundas metamorfoses

Sim
Borboleta política
Casulada seis meses
Na cela número três
Na Penitenciária Industrial
Da Colónia de Moçambique…


[305]

domingo, março 16, 2008

Rui Nogar

OS 2 PRIMEIROS POEMAS DA IMPACIÊNCIA

I

Tatuagens de lua
no corpo quente
da mãe-terra

e assim nua nua
no leito vermelho
virginal ainda
ela espera a semente
que tarda a chegar

que tarda a chegar


II

Que venham
mas não de braços cruzados

aqui amigos
o sexo vermelho da terra
lateja de febre e de cio

é preciso saciá-la
e depressa

que venham
sim que venham
mas repito não de braços cruzados

aqui amigos
aqui
a terra fenece
na fome de arados
que tardam a chegar

que tardam a chegar

ah! que tardam tanto a chegar


[304]