segunda-feira, julho 18, 2005

João Paulo Borges Coelho

SETENTRIÃO / CASAS DE FERRO (excerto/2)

De dia, calhando estar a maré baixa, descia o Povo dos barcos a estender os seus produtos no areal. Surgia ali um bazar desarrumado e barulhento que, embora sendo igual, era muito diferente dos restantes bazares conhecidos. O peixe, fresquíssimo, era pescado ali mesmo no local, quando ainda o tapava a maré. Havia gordas mulheres vendendo as farinhas, as couves e as cebolas; cesteiros com os seus cestos acabados de entrançar, cheirando ainda ao cheiro acre da seiva da palha; rapazes vendendo cigarros à unidade ou apalpando as capulanas para comprovar o macio do pano com que eram feitas; raparigas passeando as suas cabaças de bebida fermentada, as suas latas de amendoim torrado com tal competência que a pele se soltava com um sopro e saía voando, etérea.


[166]

2 comentários:

  1. Que bonita fotografia! - um beijo, IO.

    ResponderEliminar
  2. João Paulo

    Assisti sua entrevista na RTPi aqui onde moro no Brasil...
    Pesquisando seu nome encontrei o blog e gostei.
    Em comum, a cidade Natal e parte da vida passada e dedicada a uma das ex-colônias, no meu caso em Angola.
    Procurarei seus livros aqui ou em Portugal

    Nelsinho (Nelson Castro)

    ResponderEliminar