quinta-feira, junho 30, 2005

João Paulo Borges Coelho

SETENTRIÃO / O PANO ENCARNADO (excerto/2)

Se ainda houver dúvidas, puxe pela memória, cliente,
diz ainda o senhor Rashid, achando que temos aspecto de ter memória,
e lembre-se de um certo fato da melhor fazenda riscada que o senhor doutor Arantes e Oliveira gostava tanto de usar no tempo em que era Governador-Geral, e que lhe assentava a matar; levou-o daqui, éramos já Alfaiataria 2000, embora ainda sem Jamal, nessa altura soando a negócio mais que de futuro, espacial, marciano. Mais avançado que ele, e mesmo assim só um ano, apenas aquele filme americano que passou à época no Alemida Garret, em Nampula, e a tanta gente admirou. Pagou o senhor Governador pelo fato uma pechincha. Há até uma fotografia onde tudo o que ele veste é meu excepto as extremidades, ou seja, o chapéu que usava alternadamente na cabeça ou na mão e consta que foi Salazar ele próprio que lho enviou, e os sapatos que não sei onde os comprou pois não se pode saber tudo. Não sou e veríamos nessa fotografia um Governador-Geral todo nu, de sapatos nos pés e chapéu na mão.


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