domingo, fevereiro 13, 2005

Rui Knopfli

S. PAULO

Povoado de sombras e fantasmas,
é ranger de passos o que escutamos,
ou apenas o estalido que o tempo
arde na madeira ressequida dos sobrados?

Pilhado, sangrado, espoliado
pela voraz cobiça
de sátrapas, clérigos e soldados,
apenas te legaram
a pesada alvenaria rectangular,
treze órbitas vazias com que fitas
a praça, e o mar em frente,
o silêncio húmido que te desce
das soturnas arcadas
e o lenho sepulcral das portas semicerradas
em que escasseiam batentes e puxadores
ou mesmo o metal pobre
de algum mais caprichoso arabesco.

Não só as portas e os muros.
Também as sombras. E os fantasmas.


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