sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Frei Bartolomeu dos Mártires

UM CAMINHAR NA CIDADE DE PEDRA E CAL

Na ponta N.E. da ilha está situada a bela e linda cidade de Moçambique servindo-lhe como de coroa a grande e magnífica fortaleza de S. Sebastião, que pela sua celebridade nos merece uma descrição particular (...)
Saindo da dita fortaleza, e passando um pequeno, mas vistoso campo todo limpo plano, e com vistas ao mar pelo sul, e pelo norte aonde a tropa faz as suas evoluções, e exercícios militares; que serve como de passeio público à cidade, e aos mouros de lugar destinado para fazerem amarras, viradores, e cordas de cairo, entra-se na mesma cidade por duas ruas, além de outra que corre junto da praia pela parte do sul. Estende-se a povoação por todo o comprimento da ilha até mais de dois terços da sua extensão, ocupando de mar a mar todo o terreno intermédio. As ditas ruas e outras e outras mais que tem a cidade bem podiam ser tiradas todas em linhas rectas, paralelas, e cortadas igualmente em ângulos rectos, segundo inculca a natureza do terreno; mas infelizmente quase todas são irregulares, tortas sem nenhuma uniformidade. São contudo limpas, e asseadas, planas e algumas das principais argamassadas de tal forma, que causa gosto andar por elas. Há em todas casas nobres e são algumas tão vastas e bem construídas, que podem entrar em competência com os bons palácios das grandes cidades. São as casas e igrejas todas cobertas de terraços, talvez mais pesados e mais fortes que as abóbadas de tijolo: servem-se deles os moradores, não só para os seus divertimentos, e passeios da tarde, mas principalmente para aproveitarem as águas da chuva (únicas que se bebem em toda a cidade) em grandes cisternas, que junto das mesmas casas têm sido construídas.


[131]

Sem comentários:

Enviar um comentário