terça-feira, junho 21, 2005

João Paulo Borges Coelho

SETENTRIÃO / O PANO ENCARNADO (excerto/1)

Para entrar na Ilha de Moçambique é necessário atravessar a ponte. Ponte estreita, metálica, quase infinita, que nos leva da terra firme para o outro lado. Como sempre, há a versão daqueles que olham a Ilha com estranheza e a dos outros, que a consideram o dentro do mundo, e ao outro lado o mato. De qualquer maneira, sendo ou não como cada um diz, é na ponte que reside todo o mistério pois que, unindo, ela traz à lembrança a separação. Sem ponte seria um mundo à parte; com ela, transformou-se a Ilha numa ilha, num espaço fechado onde só pela ponte se entra ou sai. Como em todas as ilhas, também aqui os habitantes são inquietos, olhando o continente com desdém, outras vezes como se o desejasse. Nunca se decidindo, todavia, a alcançá-lo.


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2 comentários:

  1. Vivi a minha infãncia na Ilha, ainda sem ponte.Iamos de "gasolina" para Nacala.É quase impossível alguém ter tido uma infãncia tão feliz como a minha. Eu imaginava que o mundo eram ilhas. Quanto á ponte, soube mais tarde que foi construida sem objectivos práticos nenhums, foi apenas uma negociata para encher os bolsos a meia duzia. A minha casa era em frente á Zuid, e o meu amigo era o Xico Larico da Perna Alçada.

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  2. Ninguém comenta?Então não serve para NADA!

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