Rui Knopfli
PRAÇA SETE DE MARÇO
No centro da praça, meu pai acena
do fundo do tempo: o coração
da cidade ao voltar da esquina.
Por sobre os metais cintilantes da banda,
o Ali de cofió rendado e cabaia branca
leva a bandeja nos gestos graves.
Há um bule de loiça e uma chávena
a fumegar na tarde, o odor quente
e loiro das torradas, o travo amargo
da compota; senhores que passeiam
de palhinha e palm beach, baneanes
magros de reverência solícita, um surdo
marulhar de pedras giradas no mah jong.
O horizonte abre para o mar, lisa
matriz do sol. Móveis, as sombras
gizam no empedrado caprichos longos
com o passar da luz entre a folhagem.
E meu pai tão longe que já o não vejo,
talvez de ter passado, como a luz,
sobre esse tempo e esse lugar, ora mudados
em eco fruste da memória. No centro
da praça volto-me para acenar a meu filho.
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quinta-feira, dezembro 30, 2004
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Gosto mesmo deste Knopfi! _ Bom dia, Miguel, olá 2005!, IO.
ResponderEliminarEste comentário foi removido por um gestor do blogue.
ResponderEliminarHá sempre uma primeira vez, para tudo.
ResponderEliminarHoje esta é a minha primeira vez aqui e, conhecendo a Praça, estando eu naquela curva do caminho em que o acenar dos mais velhos vai perdendo vigor e o meu acenar aos mais novos já começa a fazer sentido, estas palavras ganham ainda maior significado.
Bom 2005, para ti Sombra, seja lá quem fores...
Eu sou filha da Saudade do Passado e da Saudade do Futuro.