domingo, outubro 12, 2003

Orlando Mendes

RIGOR

Quando passa e aí devotamente se demora
o erudito na volúpia dos contornos subtis
para televisionar durante uma hora
o que se pratica e mais o que se diz
não pense que dispensamos o rigor da geometria
e da linguagem que nos faz a fala.
Sabemos como se desenha e pronuncia
cada sílaba de palavra nova
porque o escrúpulo gramatical é a verdade que o prova
assim um corpo no amor outro possui e dá-se
e a mulher pariu um filho e o embala.
Sim usamos régua, esquadro e compasso
e o vocábulo e a sintaxe
para medir a minúcia de cada traço
e formar o sentido exacto de cada frase
não leccionados. E se for preciso que se arrase
o antigamente caiado e agora decrépito muro
onde mão privilegiada escreveu
em nome da metrópole cerebral
«decreto: quem sabe e dita sou.»
Hoje temos o mar e o nosso próprio sal.


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