Eugénio Lisboa
NO TEMPO EM QUE, FERNANDO
Ao José Craveirinha
Era terra de sol e alegria,
de húmida, vegetal espessura:
ali a minha voz acontecia,
com o ritmo do sangue e da negrura.
Agora, a neve branca cobre a estrada,
com seu manto de noite e solidão.
Já, se o círculo traço, não há nada,
se não fora gelada vibração.
Era terra de ouro fecundada,
força macha, leal, apetecida.
Era chuva, magia visitada,
era sal, sugestão de força ardida.
Agora é só o branco que faz mal
ao filho cujo sal já emigrou.
A vida, agora, é lisa, mineral,
o coração, gelado, sossegou.
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