domingo, abril 09, 2006

Rui Knopfli

POSTERIDADE

Um dia eu, que passei metade
da vida voando como passageiro,
tomarei lugar na carlinga
de um monomotor ligeiro
e subirei alto, bem alto,
até desaparecer para além
da última nuvem. Os jornais dirão:
Cansado da terra poeta
fugiu para o céu. E não
voltarei de facto. Serei lembrado
instantes por minha família,
meus amigos, alguma mulher
que amei verdadeiramente
e meus trinta leitores. Então
meu nome começará aparecendo
nas selectas e, para tédio
de mestres e meninos, far-se-ão
edições escolares de meus livros.
Nessa altura estarei esquecido.


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2 comentários:

  1. Enganas-te, Rui, não te deixaremos morrer... - abraço, IO.

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  2. Penso que ele quase se enganou, porque não ganhei o Euromilhões. Se sim, faria 2 edições grátis a serem distribuidas elo Correio da Manha, a TV 7dias, a Lux,o 24 horas:
    - A Ilha de Próspero;
    - Mangas Verdes com Sal.
    Os portugas entenderiam que o mundo não é só cá, que não é o empregozinho, não só os Inhozinhos que nos desgraçam.

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