Carneiro Gonçalves
CONTO DE ACHIRIUA (excerto)
Ora uma vez (contam os achiriuas) havia um penedo mesmo no pino da montanha. Morreu de amor. O penedo era acessível, a escalada fácil. Uma árvore irrompia brusca do seio do penedo, esguedelhada, uma árvore que amava o penedo com força, mais do que um homem ama uma mulher. Amava-o tanto que irrompia, meiga, do seio dele, já aberto, conformado, alegre até com a fúria que o dilacerava, parcelava, dividia. Quando o vento, zoeira de todo, experimentava, rajada após rajada, a solidez invulgar daquele amor estranho, observava por entre assobiadelas os beijos seguidinhos da árvore no peito forte do penedo, inamovível, todo entregue ao cuidado de a defender dos suspiros boémios do vento do vento amalandrado.
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domingo, abril 02, 2006
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Olá Miguel!, mandei-te um e-mail com o OK do Gil, diz se recebeste, pois ando baralhada com os teus e-mails. Beijo, IO.
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