João Paulo Borges Coelho
MERIDIÃO / VERDADEIROS PROPÓSITOS (excerto/2)
Nesse tempo ainda não existia o pontão do cais e as mulheres embarcavam com mil dificuldades, equilibrando trouxas à cabeça e arrastando os filhos nas pontas das capulanas. Primeiro, era a distância interminável com água pelos joelhos até chegarem às canoas. Depois, estas pejadas de gente e carga, ameaçando adornar na sua viagem lenta até encostarem ao casco ferrugento do barco da carreira. Finalmente, o embarque, o povo trepando como podia, as galinhas cacarejando, os cabritos balindo assustados com o transbordo, as crianças chorando, a multidão cansada e irritada como se estivesse terminando e não começando a viagem. E o Nieleti parecia então uma nova arca de Noé, com bichos e plantas, humanos e coisas, diferente da original apenas na medida em que em vez de estar salvando um par de cada, procurava salvar um povo inteiro.
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terça-feira, fevereiro 28, 2006
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