Rui Knopfli
PAISAGEM
Acordando a densa folhagem
da mafurreira,
rouco, o grito da soa
rasga o ar parado.
Gorgolejando
responde o lagarto
humilde das pedras:
Dois tons
Na imensa orquestra do plaino.
Com fragmentados,
distantes murmúrios
de povoações algures,
paralelo, corre nas lonjuras
do sol mordente, um coro
fanhoso de cigarras.
Sob a comprida sombra de meus olhos
dormita uma adolescente negra,
finos, dengosos músculos
arquejando leve sob a pele lustrosa.
Nos confins da tarde
ri estridente um bêbedo
e mil vidas vibram poderosas
na falsa quietude dos matos.
De estranho metal,
nos espaços, cintilam agulhas.
Então,
uma brisa morna
arrasta as últimas folhas secas
por sobre
o rio e a foz.
[193]
sábado, janeiro 07, 2006
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