sábado, janeiro 07, 2006

Rui Knopfli

PAISAGEM

Acordando a densa folhagem
da mafurreira,
rouco, o grito da soa
rasga o ar parado.
Gorgolejando
responde o lagarto
humilde das pedras:

Dois tons
Na imensa orquestra do plaino.

Com fragmentados,
distantes murmúrios
de povoações algures,
paralelo, corre nas lonjuras
do sol mordente, um coro
fanhoso de cigarras.

Sob a comprida sombra de meus olhos
dormita uma adolescente negra,
finos, dengosos músculos
arquejando leve sob a pele lustrosa.

Nos confins da tarde
ri estridente um bêbedo
e mil vidas vibram poderosas
na falsa quietude dos matos.
De estranho metal,
nos espaços, cintilam agulhas.

Então,
uma brisa morna
arrasta as últimas folhas secas
por sobre
o rio e a foz.


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