terça-feira, maio 24, 2005

Rui Knopfli

A DESCOBERTA DA ROSA

«Rosas não me dizem nada…»

Dez anos de poesia, fora a gaveta
e descubro que, a não ser ocasionalmente
e em ar de troça, jamais me debrucei
deveras sobre o tema da rosa. De resto
eram para mim, creio, marginais as flores.
Vícios de formação e juventude,
uma tão intensa preocupação do humano
que olvidei a discreta angústia da rosa.
Outros, não o ignoro, nela tiveram seu princípio
para a deixarem depois esquecida entre as páginas
de um qualquer velho livro, tão cheios eles,
de ternura e simpatia fraternas, coisas
que já eludem este coração envilecido.
Salvo o devido respeito por tudo quanto é útil
e estimável na terra, falta-me o tempo
e o ânimo para as empreitadas mais ingentes.
E o pouco que me sobre tenciono aplicá-lo
em tarefas humildes como o cultivo
destes versos, algum súbito amor inadiável
e a lenta e minuciosa descoberta da rosa.


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