segunda-feira, maio 09, 2005

Luís Carlos Patraquim

FREI MUTIMÁTI GRABATO JOÃO

«Vemos só o que vemos sabendo que há mais
Do outro lado do aquilo, no delá da galba»

P’la estrada de Machava, à esquina da Meseta,
como Rolando sob a última fachada
ou como quem tropeça piqueno
e um Morto muito
lhe deve versos – o cono! –
mai-lo zarolho que lhe deu
claramente visto o Povo,
lá vai Frei João, o Mutimáti,
ao grabato da alma.

Psiu, D. Antónia; João dos barcos
desancorados da infância; Amélia,
múgica guitarra onde sob os cabelos
a voz e tu, menino,
que arado adunco nos mostraste em obra,
visto que o autor é o seu próprio processo,
e dele nem Virgílio o nomeia
em verde prado onde os deuses apascentou;
Psiu, que p’lo caminho de Inhaminga,
p’lo caminho de Santiago com a Rosa na Arca
e a sapata grossa ecoando, cavernosa,
~uas quybyrycas de Barcelos,
lá vai Mutimáti mai-lo cachimbo
de chicaocao e canho adornando ogres,
floresta obscura, parva savana nítida.

D’oiro menino e número ele busca, um zunido,
não de Deucalião a curva da pedra batendo
e a terra ferida e nem os círculos
sobressaltando as águas, tingindo-as
de um cenho triste, mas de puríssimo mel
desenhando o vário Mundo, branco estertor
que da tela golfa e onde pasta
a bela novilha – ou Inês? – sossegada
e Ele sacoleja o tinthohlo
como uma Canção Desesperada.

Haverá odes de haverás e,
no delá da galba, gájaras de Ceres
generosa e um cajueiro em seu júbilo
entesourando a colheita
e os súcios nem o cuspo de um verso teu
merecem onde minucioso te deste à desova
e o Cavré ainda salga os velhos espíritos
e o Rui sangra a sombra ardida e verde
e tu a veres só o que vês
sabendo que há mais do outro lado
do aquilo onde agora estás.


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