sábado, abril 16, 2005

Pedro Muiambo

A ENFERMEIRA DA BATA NEGRA (excerto/1)

Brincava no jardim frontal da vivenda que juntamente com outras cinco dezenas, de igual pequenez e ordinarice, inventavam aquela vila sobranceira ao Incomáti – quando as surpreendeu.
Precipitavam-se, num jogo de matyangwe-tyangwe, para um buraquito cavado no centro do relvado.
As formigas.
Agachou-se a acolheu-as, qual monge solene, com a sombra do seu corpinho. Enlevado. Boquinha semiaberta. Olhos reflectindo estrelas inexistentes no amplo azul celeste. Eram uns olhos grandes, justamente a medida da interrogação das crianças, na sua ingénua, entusiástica e mórbida filosofia.
E tão voraz era a sua curiosidade, que quase derrubava o formigueiro com a potestade da sua contemplação.
Foi no ano em que a fome chegou pelas asas dos gafanhotos.
Nesse inolvidável ano de 1980.
Isayana Magaço prosseguia a sua infanta desvenda do cosmos enquanto, lá das nuvens, aos olhos dos passarinhos, parecia entregue aos fúteis mistérios dos homens.
Na verdade, naquele ângulo, era-lhes difícil reparar que o garoto batia também as suas asas, à sombra daquele eucalipto imponente.


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