quinta-feira, novembro 13, 2003

Rui Knopfli

NO CREMATÓRIO BANEANE

Brahman e Atman, eis dois nomes apontando
à mesma verdade, porque outro e um
a mesma coisa são. A Verdade Universal
no primeiro, no segundo a que cada um
de nós transporta dentro de si. Às duas
designa-as Om, o Sim Total, a Verdade
Derradeira. Saibam lê-las no crepitar

da lenha, aqui neste instante
e neste último envergonhado reduto
que nos coube, precária ponta escorada
sobre o acerado resvaladiço da rocha.
Hirto no topo da pira, ungido de essências
e grinaldas, o despojo apenas se descobre
à férrea impassibilidade de S. Lourenço.

Nachiketas, o jovem, repete a pergunta
milenar: «Na morte de um homem
dizem uns, ele é e outros, ele não é.
Onde está a verdade?» «Atman, o Ser,
nunca nasce e morre nunca». Por réplica
da branca ara para o alto sobe
alta coluna de grosso fumo vertical.

Tat tvam asi. Satyam jayate.


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