quarta-feira, novembro 26, 2003

Eugénio Lisboa

ORIGEM

Ao Sebastião Alba

Regresso ao passado espesso
Tecido incestuosos vário sujo
Magna de ódio embebido em gesso
Rápidos pavores de que fujo
Ó húmida tentação horizontal
Cave podre e quente latejante
Onde menina sedução mineral
Viva palpo aliso quase ofegante
A vida a violência o sangue o sal
Incrível solo de augusta criação
O leite o mar a mão o sexo
O amor o riso e a traição
Os livros e a pureza ó quase nexo
Ó embruxado, aquecido caldo
Turva sopa inquieta mátria
Em ti me aqueço grito escaldo
Noiva do negro cru espasmo-pátria!
Tempo turvo incerto fino rubro
Metálico fogo ruivo trampolim
Horizontal finura que recubro
Ó mãe irmã uva de cetim!
Tempo antigo de impura surdina
tudo era ali calor de incerteza
Risco cerco sugestão de mina
Súbito esperma surto da represa.
O estupro a morte o oleoso sangue
O mar que tudo lava a memória
O ódio a agonia o corpo exangue
Do negro rebentado – única vitória!
Infância plasma leite de origem
Noite descoberta febre violenta
Profanação antiga ó mãe vertigem
Noite confusa vigília peçonhenta.
Sabor antigo e brusco a caju
Pecado de limão ao fim do dia.
Histórias de mamba e de surucucu
Alçado gozo de fruto e agonia.


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