Eduardo White
MASTRO
Mastro.
Mastro.
Eis que dentro deste instante
o mundo se principia a iniciar.
Musgo verde
sal das praias
resto que nutro
no hálito quente dos animais.
[286]
terça-feira, outubro 30, 2007
quinta-feira, outubro 25, 2007
Mia Couto
VERSOS DO PRISIONEIRO – ÚLTIMA CARTA DO PRESO AO POETA
Durmo sem corpo
como um cão
que, em si mesmo,
inventa um travesseiro.
Enroscado como o feto
que adia o dia
e procura a luz
na raiz do próprio ventre.
Aqui se dorme como se vive:
com pouca pátria e muita insónia.
Dormirei tudo, sim,
quando valer a pena despertar.
No enquanto da espera,
me vou, por vezes, suicidando.
Nesses dias, não risco o tempo das paredes.
E é tanto o desejo de desviver
que já não me basta morrer.
A morte perdeu a validade,
de tanto nela me aconchegar.
A ausência que desejo
é a da viagem sem distância,
sombra sem tecto nem parede.
Onde reine, não o silêncio,
mas a palavra emudecida.
Que eu sonho a morte
como o poeta quer o poema:
um falso morrer
de quem não quer viver em falso.
[285]
VERSOS DO PRISIONEIRO – ÚLTIMA CARTA DO PRESO AO POETA
Durmo sem corpo
como um cão
que, em si mesmo,
inventa um travesseiro.
Enroscado como o feto
que adia o dia
e procura a luz
na raiz do próprio ventre.
Aqui se dorme como se vive:
com pouca pátria e muita insónia.
Dormirei tudo, sim,
quando valer a pena despertar.
No enquanto da espera,
me vou, por vezes, suicidando.
Nesses dias, não risco o tempo das paredes.
E é tanto o desejo de desviver
que já não me basta morrer.
A morte perdeu a validade,
de tanto nela me aconchegar.
A ausência que desejo
é a da viagem sem distância,
sombra sem tecto nem parede.
Onde reine, não o silêncio,
mas a palavra emudecida.
Que eu sonho a morte
como o poeta quer o poema:
um falso morrer
de quem não quer viver em falso.
[285]
domingo, outubro 21, 2007
Mia Couto
ILHA DE MOÇAMBIQUE
Não é a pedra.
O que me fascina
é o que a pedra diz.
A voz cristalizada,
o segredo da rocha rumo ao pó.
E escutar a multidão
de empedernidos seres
que a meu pé se vão afeiçoando.
A pedra grávida
a pedra solteira,
a que canta, na solidão,
o destino de ser ilha.
O poeta quer escrever
a voz na pedra.
Mas a vida de suas mãos migra
e levanta voo na palavra.
Uns dizem: na pedra nasceu uma figueira.
Eu digo: na figueira nasceu uma pedra.
[284]
Bibliografia essencial: Mia Couto, idades cidades divindades, Caminho
ILHA DE MOÇAMBIQUE
Não é a pedra.
O que me fascina
é o que a pedra diz.
A voz cristalizada,
o segredo da rocha rumo ao pó.
E escutar a multidão
de empedernidos seres
que a meu pé se vão afeiçoando.
A pedra grávida
a pedra solteira,
a que canta, na solidão,
o destino de ser ilha.
O poeta quer escrever
a voz na pedra.
Mas a vida de suas mãos migra
e levanta voo na palavra.
Uns dizem: na pedra nasceu uma figueira.
Eu digo: na figueira nasceu uma pedra.
[284]
Bibliografia essencial: Mia Couto, idades cidades divindades, Caminho
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