domingo, outubro 21, 2007

Mia Couto

ILHA DE MOÇAMBIQUE

Não é a pedra.
O que me fascina
é o que a pedra diz.

A voz cristalizada,
o segredo da rocha rumo ao pó.

E escutar a multidão
de empedernidos seres
que a meu pé se vão afeiçoando.

A pedra grávida
a pedra solteira,
a que canta, na solidão,
o destino de ser ilha.
O poeta quer escrever
a voz na pedra.
Mas a vida de suas mãos migra
e levanta voo na palavra.

Uns dizem: na pedra nasceu uma figueira.

Eu digo: na figueira nasceu uma pedra.


[284]

Bibliografia essencial: Mia Couto, idades cidades divindades, Caminho

1 comentário:

  1. E já agora convido-vos a todos a entrarem no Kafe Kultura, entrarem na máquina do tempo e visitarem Lourenço Marques ou Maputo, nos anos 20.
    Em http://kafekultura.blogspot.com

    ResponderEliminar