Ana Mafalda Leite
O VERMELHO DAS ACÁCIAS NA PAISAGEM
cai ao chão a mais íntima aurora
há-de vestir-me de cor rubra
a matéria que tinge o céu e me deslumbra
este assalto da aurora será meu enxoval meu dote de menina
agora que sei o mistério e continuo donzela
tu que pões o vermelho das acácias na paisagem
estranho amor te foi cobrindo amarga toranja
doce de papaia regressa
de cada vez
mais jovem
a semente
chama
arde em lábios audaciosos
neste acontecer saboroso
eles são afeitos
à incandescente terra a crescer um dom de mansidão
em fundo laranja canta o palato assim aceso enquanto
um rosário de contas pretas me escorre dos dedos
devagarinho para o chão
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quinta-feira, maio 11, 2006
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Sou uma filha esfarrapada do hemisfério sul, bebo as lágrimas de quem fala da terra vermelha e cozo a minha alma à vida com as sementes que sei que não nascerão nesta terra. Tenho fome e tenho gritos que rolam como migalhas pequenas perante a realidade deste frio imenso que é estar no hemisfério norte! Saber que há poetas e gente que falam do meu chão com sangue e veias alucinadas carregadas de cor vermelha da terras e o sabor das goiabas faz-me sentir que afinal eu sou mesmo dali e não sou apenas esta alma pequena, estes passos sem espaço, estas assas sem céu, este coração que pulsa como búfalos selvagens que agitam a terra e levantam o pó vermelho que se atira ao céu numa raiva imensa a perguntar: porque expulsas os teus filhos África se vais ficar mais pequena, mais árida, mais fria, porque os fazes curvarem-se no hemisfério sul secos, infelizes, pequenos, com frio, porque os enrodilhas assim neste espaço tão PEQUENO, porque os magoas assim? Sabes África? Um dia a bruxa do Cunene disse-lhe que eles nunca conseguiriam prender as raízes em lado nenhum. Sabes África? Dá-lhes vento, dá-lhes o som das anlharas, o colo dos embondeiros. Tu África pariste-nos, NÃO NOS PERCAS DO TEU OLHAR.
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