Campos Oliveira
O PESCADOR DE MOÇAMBIQUE
- Eu nasci em Moçambique
de pais humildes provim,
a côr negra que eles tinham
é a côr que tenho em mim:
sou pescador desde a infância,
e no mar sempre vaguei;
a pesca me dá sustento,
nunca outro mister busquei.
Antes que o sol se levante
eis que junto à praia estou;
se ao repoizo marco as horas
à preguiça não as dou;
em frágil casquinha leve,
sempre longe do meu lar,
ando entregue ao vento e às ondas
sem a morte receiar.
Ter continuo a vida em risco
é triste coisa – sei que é!
mas do mar não teme as iras
quem em Deus depõe a fé;
é pequena a recompensa
da vida custosa assim;
mas se a fome não me mata
que me importa o resto a mim?
Vou da Cabaceira às praias,
atravesso Mussuril,
traje embora o céu d’escuro,
ou todo seja d’anil;
de Lumbo visito as águas
e assim vou até Sancal,
chegou depois ao mar-alto
sopre o norte ou ruja o sul.
Só à noite casca ataco
para o corpo repousar,
e ao pé da mulher qie estimo
ledas horas ir passar:
da mulher doces carícias
também quer o pescador,
pois d’esta vida os pezares
faz quasi esquecer o amor!
Sou pescador desda a infância
e no mar sempre vaguei;
a pesca me dá sustento,
nunca outro mister busquei;
e em quanto tiver os braços,
a pá e a casquinha ali,
viverei sempre contente
neste lidar que escolhi.
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