Fonseca Amaral.
L'APRÉS-MIDI D'UN GALA-GALA
Aí vai, em espiral,
pela mafurreira acima.
De capuz azul celeste,
estreitos lombos de cinza,
seu ventre quase de nácar
arrima-se às moças. Moscas,
quero eu dizer, na verdade.
Não se importa mesmo nada
com este odor machambeiro
a massala, milho velho,
capim seco e gasolina.
Só com a árvore conta
- mais um pedaço de terra,
para as pequenas surtidas.
Mesmo pequenas surtidas?
Também tem disso, também.
Coisas da vida terrena
de um bicho tão colorido,
solteiríssimo, tristonho...
Gala-gala, gala-gala,
diz que sim, que sim, que sim,
gala-gala!
"Conversa de jaca mole",
coaxam muchachos duros.
"Temos um réptil rampante,
heroicamente falemos.
Em ramada, em campo verde,
é dragão, raio, uma espada.
Sua justa guerra às moscas,
monstros de sete mil olhos,
merece um outro poema,
muito, muito sublimado!"
Gala-gala, gala-gala,
diz que não, que não, que não,
gala-gala!
Mesmo do seio do mato,
vem Mufana, a assobiar.
Topa logo o gala-gala.
Aventa rija pedrada,
e lá se vão para as malvas
o lagarto e o poema.
[5]
Bibliografia essencial: No Reino de Caliban - Antologia Panorâmica da Poesia Africana de Expressão Portuguesa, Volume III, Organização de Manuel Ferreira, Plátano (2ª Edição, 1997)