terça-feira, maio 27, 2003

Apesar da epígrafe de Natália Correia, este blog destina-se à partilha da literatura em geral, mas sobretudo da poesia, de Moçambique, e constrói-se sob a égide dos poemas de Rui Knopfli. Que, muito naturalmente, o inaugura.


ENTÃO, RUI?

Sobes o barranco, corpo magrote
e alguns empenos, rosto miúdo
nariz agressivo, o olho muito agudo,
ríspido qual ave de presa.
Tu capital a teus pés,
sem que o saiba, longilínea,
alinhada, de carros pequenos
e brilhantes entre acácias de miniatura.
Coças o peito na zona do esterno
num jeito muito teu. E olhas.
Teu olhar tem a curvatura
terna e feroz de uma grande-angular.
Esse perfil distante de cimento
e argamassa é toda uma geometria
decantada e gostosa molhando os quadris
deleitados no charco doce da baía.
Diacho, que perfil mais bonito, hem?
Então, Rui, que é isso,
não vais agora comover-te?


[1]

Bibliografia essencial: Rui Knopfli, Obra Poética, Colecção Escritores dos Países de Língua Portuguesa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2003