Mia Couto
VERSOS DO PRISIONEIRO – ÚLTIMA CARTA DO PRESO AO POETA
Durmo sem corpo
como um cão
que, em si mesmo,
inventa um travesseiro.
Enroscado como o feto
que adia o dia
e procura a luz
na raiz do próprio ventre.
Aqui se dorme como se vive:
com pouca pátria e muita insónia.
Dormirei tudo, sim,
quando valer a pena despertar.
No enquanto da espera,
me vou, por vezes, suicidando.
Nesses dias, não risco o tempo das paredes.
E é tanto o desejo de desviver
que já não me basta morrer.
A morte perdeu a validade,
de tanto nela me aconchegar.
A ausência que desejo
é a da viagem sem distância,
sombra sem tecto nem parede.
Onde reine, não o silêncio,
mas a palavra emudecida.
Que eu sonho a morte
como o poeta quer o poema:
um falso morrer
de quem não quer viver em falso.
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quinta-feira, outubro 25, 2007
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no auge da empestde
ResponderEliminarhá sempre um pássaro para nos tranquilizar
é a ave desconhecida
que canta antes de voar
espreitar universoaocolo.blogspot.co
Gostei muito deste poema,não è porque foi escrito pela pessoa que gosto de ler seus artigos mas sim pela autenticidade e do assunto prisioneiro como é tratado,pois mostra claramente que a prisão em todos sentidos é uma limitação(mata).
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