sábado, agosto 06, 2005

João Paulo Borges Coelho

SETENTRIÃO / O HOTEL DAS DUAS PORTAS (excerto)

As minhas colegas andam sempre com revistas: a Jours de France se são snobs, o Paris Match se preocupadas com o mundo, o Reader’s Digest se têm a mania que lêem, o Capricho ou o Grande Hotel se ainda são sensíveis ao romance e esperam uma vida melhor; enfim, a Plateia ou a Crónica Feminina se são recém-chegadas, saloias, com saudades da terra de onde vieram. Quanto a mim, gosto de literatura.
Lia o Bonjour Tristesse (não sei se conhecem), que lamentavelmente nunca cheguei a acabar e agora nunca mais terei oportunidade de o fazer. Lembro-me de que achei curiosa a coincidência do enredo também se tecer numa praia, envolvendo uma rapariga que, guardadas as distâncias, até era parecida comigo. Ou, mais exactamente, de quem eu me sentia próxima. O mesmo mar imutável no seu repetido movimento; a mesma areia pesada, imune ao tempo; o mesmo sol lento e monótono. E, todavia, tudo se transformando velozmente em redor da rapariga e dentro dela. Também eu sentia uma transformação intenso fermentando dentro de mim, embora, ao contrário dela, não soubesse ainda definir-lhe os contornos. Nem suspeitasse quão radical acabaria por ser.


[169]

1 comentário:

  1. Parabéns pelo seu blog. Considero os assuntos que aborda muito pertinentes. Quando puder vá ver também o nosso e diga-nos coisas.

    Começámos há pouco tempo.

    http://doismaisdoisigualacinco.blogspot.com/

    ResponderEliminar